Crônica escrita em agosto de 2004.Acabaram os dias de glória. Brincamos de faz de conta, onde cada um contou sua própria estória num mundo que nunca existiu: O “Brasil Encantado”.
Acreditou-se, por um momento, que bastaria sermos os campeões da Copa do Mundo para que as coisas se arrumassem por aqui; ledo engano. Agora, os brasileiros acordaram (não tão cedo ou dispostos como antes para assistir aos jogos) e perceberam que o “doce sonho” havia dado lugar ao pesadelo. Em momentos de nostalgia, lembram da catarse coletiva em que tudo parecia ter solução e a felicidade era generalizada.
O “Brasil Encantado” deu lugar a um conjunto de fábulas que compõem o cenário imaginário de cada um dos candidatos à Presidência do País: Peter Pan - Anthony Garotinho - o garoto que quer brincar de governar; Os Três Porquinhos - Luís Inácio Lula da Silva - o candidato que sobreviveu a três eleições e continua em sua casa de tijolos esperando que o lobo não consiga lhe pegar; Chapeuzinho Vermelho - Ciro Gomes - no caso, ele é o caçador. Aí, os papéis se invertem, ele não salva a vovó, mas a chapeuzinho – Patrícia Pilar - acaba salvando a todos; por último, temos a Cinderela – José Serra - cuja fada madrinha é Fernando Henrique Cardoso, mas ainda faltam-lhe os sapatos de cristal para ir à festa no palácio. Sim, acreditem! Esta é a campanha presidencial!
Num ano em que a crise corroia a vizinha Argentina ameaçando bem de perto o Brasil e com eleições importantes, já que a mesma crise vem tomando corpo (mesmo não sendo um bicho papão ela assusta muita gente grande), sonhávamos com o Pentacampeonato e com a glória de nossos jogadores – heróis.
A expectativa, diante das ações deste novo presidente, é sentida por nós e pelos apostadores, digo, investidores que põem e tiram seu “santo dinheirinho” aqui, porém, o que percebemos é que houve mais preocupação, não com a “corrida maluca” que se tornou a eleição presidencial, mas com a eleição do melhor jogador da Copa. Como ficamos decepcionados! O Alemão acabou levando o título e o outro a Fórmula 1.
Voltando ao “Brasil Encantado” constatamos que o sonho acabou, retornando o pesadelo, ou melhor, a realidade que para muitos é tão difícil de encarar. Sabemos que o País de encantado não tem nada, mas aqui, é sim, a “Terra do Nunca” (sem Peter Pan). Esperamos que desta vez alguém modifique esta nomenclatura, substituindo o nunca por um talvez. “Terra do Talvez”... Seria melhor dizer: “Terra do Talvez e da Esperança”, sentimento que, incrivelmente, o brasileiro nunca perdeu.